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A mostrar mensagens de junho, 2010

Loop

Daniel acorda exausto, após mais uma noite carregada de insónias. Entorpecimento mental irreversível? Provavelmente não, apenas mais um capítulo numa fase deprimente da sua vida, cujo prolongamento parece não cessar. Minutos antes de despertar, encontrava-se imerso num sonho profundo, subliminarmente envolvido por um manto negro, uma enigmática fumaça capaz de exercer sobre si um poder hipnótico. Totalmente entregue, Daniel era invadido por um turbilhão paradoxal de emoções, ora terrificado, como que pressentindo uma ameaça iminente, ora fascinado e deslumbrado por esta fumaça. Pelo topo de um farol, pelo cume de uma montanha, por um templo secreto que a erosão do tempo fez questão de esconder ou por uma modesta e rústica igreja, dotada de uma acústica natural sem precedentes, o seu corpo e espírito, numa simbiose perfeita, viajavam à velocidade da luz. Conduzido pela fumaça nesta viagem astral, acaba, no entanto, por finalmente assentar numa rua qualquer de uma grande metrópole, sendo

Ode ao Ódio

Odeio-te. Visceral, silenciosa e obsessivamente. A ti, porque me traíste. A ti, porque me mentiste e me fizeste passar por um tonto. A ti, porque não te entregaste incondicionalmente a mim. A ti, porque me tentas impingir a tua filosofia de vida, quando já devias ter percebido há muito que não vale a pena. A ti, por seres manipulador ao aproveitares-te das fraquezas dos outros. A ti, por seres ridiculamente insistente e não me deixares em paz, quando eu só quero mesmo é estar sozinho. A ti, por achares que temos sempre algo a provar. A ti, por seres tão preconceituoso. A ti, por seres demasiado ingénuo. A ti, por seres tão conservador. A ti, por seres demasiado progressista. A ti, por seres tão intolerante. A ti, por seres demasiado permissivo. A ti, por seres tão imaturo. A ti, por seres demasiado maduro. A ti, por seres fútil. A ti, por seres inútil. A ti, por seres arrogante. A ti, por seres banal. A ti, por seres obtuso. A ti, por seres fundamentalista. A ti, por seres morali

Manifesto

Há anos que me sentia compelido a criar um blog. Porquê só agora? Pela mesma razão que dita muitas das minhas acções: por espontaneidade. Não me parece, muito honestamente, que venha a encarar este espaço como um refúgio emocional, ou até mesmo, no seu sentido mais convencional, como um diário passível de assinaláveis registos da minha (in)actividade existencial. Encaro-o sim como apenas mais um escape ocasional, a juntar a muitos outros que preenchem os meus dias, semanas, anos. Não será com certeza um reflexo de tudo o que sou e penso, não versará somente questões pessoais, mas também incursões por domínios abstractos, demasiado ousados e fantasiosos para se reportarem exclusivamente à minha pessoa e a tudo o que a ela está inerente. É, como o próprio título indica, um fluxo de consciência, um veículo para a transcrição e exposição de monólogos diversos, em que os moldes espacio-temporais serão abolidos, actuando como uma extensão da inconformidade que me caracteriza. Assim, a escrit